São Tomé e Príncipe

Mariane Cardoso, Ana Luiza Nobre e David Sperling

Bombaim, São Tomé e Príncipe

0°15'21" leste e 6°36'54" norte.

Arquipélago no Atlântico que serviu de laboratório para as práticas de colonização portuguesa e o sistema das "plantations".

Publicado em
05/09/2022

Atualizado em
02/12/2022

De um lado, um território de dimensões continentais, sertões imensuráveis a serem desbravados. De outro, um pequeno território insular, flutuante na vasta extensão do Atlântico.

Distantes do continente africano mais de 300km, as ilhas de São Tomé e Príncipe provavelmente só conheceram a presença humana quando as primeiras naus portuguesas aportaram ali. A ilha maior foi encontrada por João de Santarém em 1470, no dia de São Tomé, sendo assim batizada. A menor foi encontrada por Pêro Escobar no dia de Santo Antão, sendo posteriormente nomeada em homenagem ao Príncipe de Portugal.

Os portugueses logo começaram a dar uso à terra. Tomando paulatinamente o lugar do Ôbo, floresta tropical exuberante da região, instalaram ali a monocultura da cana-de-açúcar, com base na mão-de-obra escrava. Foi o primeiro experimento com o sistema de plantation nos trópicos, que fez de São Tomé o maior exportador de açúcar em meados do século XVI.

No entanto, o clima tropical, a escassez de plantas e animais domésticos e a distância de Portugal dificultaram a adaptação dos portugueses a São Tomé e Príncipe. Perante o reduzido número de colonos que se voluntariaram para habitar o arquipélago, o rei se viu obrigado a oferecer cargos públicos aos negros alforriados. Os chamados “forros” posteriormente iriam constituir a maior parte da elite local, uma reviravolta que pautou muitos dos conflitos étnicos da região.

Com a chegada dos portugueses ao que viria a ser o Brasil, em 1500, o arquipélago se tornou entreposto para as rotas do tráfico negreiro e ganhou relevância geopolítica. Ao mesmo tempo, a colonização portuguesa da América representou a decadência açucareira das ilhas. O cruzamento entre Brasil e São Tomé se traduz na expressão do historiador Luiz Felipe de Alencastro, para o qual o arquipélago serviu como um “laboratório tropical”. Das moendas açucareiras ao plantio de coco e banana, dos procedimentos de tráfico negreiro ao trabalho escravo, da prática catequizadora à implantação de instituições de controle – tudo isso que marca a colonização do Brasil foi testado durante os trinta anos anteriores no protótipo insular.

O circuito transoceânico entre Brasil e São Tomé e Príncipe teve vários fluxos. A partir do século XVIII, muitos filhos dos forros foram para Salvador estudar funções eclesiásticas. Por sua vez, nascidos na Bahia migravam para o arquipélago a fim de prosperar com fazendas. Foi assim que, em 1822, o marquês baiano José Ferreira Gomes introduziu as primeiras mudas de cacau em São Tomé. Justamente no momento em que se proclamava a Independência do Brasil, a cultura do cacau, juntamente com o café, desencadeou assim a recolonização das ilhas, provocando mudanças profundas na sua estrutura sociopolítica.

Nesse intenso tráfico de gente, plantas, objetos, técnicas, conhecimentos, desejos e memórias, construiu-se uma história em comum entre dois territórios tão distantes e distintos em termos de escala, irmanados pelo sistema da colonização portuguesa.

“Boys will be boys” - Foto de André Pipa (1)

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Senzalas da Roça Agua Izé em São Tomé e Príncipe - Foto de David Stanley (2)

Senzalas da Roça Agua Izé em São Tomé e Príncipe - Foto de David Stanley (2)

Roças (unidades de produção agrícola) nas florestas de São Tomé e Príncipe - Foto Divulgação/Got2Globe (3)

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Antiga Roça Belo Monte, atual Belo Monte - Plantation Hotel - Foto Divulgação/Belo Monte Hotel (4)

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Encenação do  “Tchiloli” em São Tomé e Príncipe, tradição que combina as raízes africanas e a colonização portuguesa - Foto de André Pipa (5)

Encenação do “Tchiloli” em São Tomé e Príncipe, tradição que combina as raízes africanas e a colonização portuguesa - Foto de André Pipa (5)

Comércio de Jacas nas ruas de São Tomé e Príncipe - Foto de Packing Light (6)

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