Quilombo dos Palmares

Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling

AL, Brasil

9°10'10" oeste e 36°5'15" sul.

“Este é um solo sagrado, onde foi acesa a chama da liberdade. Reverenciem-no ao pisá-lo, pois aqui repousam heróis do passado”. Placa no Parque Memorial Quilombo dos Palmares

Publicado em
05/09/2022

Atualizado em
02/12/2022

No final do século XVI, escravizados que conseguiam escapar de fazendas da capitania de Pernambuco começaram a se reunir em uma mata densa e despovoada na Serra da Barriga, liderados pela princesa congolesa Aqualtune. Os fugitivos se assentaram no atual estado de Alagoas e ali formaram uma comunidade, usando palmeiras da região para se alimentar e construir suas casas.

O quilombo cresceu ao longo da primeira metade do século XVII, chegando a ter 20 mil habitantes. Os vários mocambos que o formavam se organizavam em torno de um centro, onde ficava o líder. A estrutura física, administrativa e social era complexa e compreendia muros e torres de vigilância para garantir a defesa do território de ameaças constantes de invasão. A comida era plantada ali e trocada com a vizinhança. Com o tempo, tanto escravos quanto colonos tomaram conhecimento da existência e localização de Palmares, o que atraiu aliados e inimigos. Os colonizadores o enxergavam como um território a ser reconquistado, inclusive por conta do simbolismo que exercia na imaginação dos cativos, como uma espécie de oásis de liberdade.

Dezenas de expedições foram realizadas para destruir o quilombo, sem sucesso. Em 1678, o líder Ganga Zumba recebeu uma proposta de paz que considerava livres todos os nascidos e residentes de Palmares, oferecendo outras terras aos que aceitassem o acordo. Os demais escravizados que lá buscassem abrigo seriam devolvidos a seus donos, porém. A proposta foi aceita por Ganga Zumba, mas gerou dissenso no quilombo. Zumba acabou tendo uma morte suspeita e foi substituído na liderança por Zumbi, que seguiria na luta pela autonomia e liberdade de Palmares, insistindo que o que estava em disputa não era um grupo de pessoas, mas uma ideia e um território.

Mais e mais batalhas se seguiram, com milhares de homens liderados por bandeirantes paulistas em defesa do lado português. Até que, em 1695, após parte do quilombo ter sido dizimada, Zumbi foi morto em uma emboscada e sua cabeça exposta em praça pública, no Recife.

Apesar da queda do líder e do desmantelamento da estrutura de Palmares, alguns mocambos resistiram espalhados pela serra e seus descendentes conquistaram o reconhecimento dos territórios quilombolas. O Quilombo dos Palmares foi tombado a nível federal em 1985, e em 2017 reconhecido como patrimônio cultural do Mercosul. Desde 2007 é um parque memorial onde os visitantes são recebidos com uma placa lembrando que ali se pisa em solo sagrado.

Afinal, se não foi o primeiro momento em que o povo negro escravizado se uniu em resistência, o Quilombo dos Palmares certamente tornou-se a referência mais emblemática para os muitos aquilombamentos que se seguiram. Territórios africanos dentro do Brasil, cujas origens assombram o Atlântico. Como diz Antonio Bispo dos Santos, “Saiu o primeiro navio negreiro, eis o primeiro quilombo.”

Busto de Ifé, exposto no British Museum. Obra que serviu de referência para o Monumento Zumbi dos Palmares, no Rio de Janeiro. Fonte: British Museum. (1)

Busto de Ifé, exposto no British Museum. Obra que serviu de referência para o Monumento Zumbi dos Palmares, no Rio de Janeiro. Fonte: British Museum. (1)

Celebração anual em memória do Quilombo dos Palmares. Foto: Regina Santos. (2)

Celebração anual em memória do Quilombo dos Palmares. Foto: Regina Santos. (2)

Principais povoados de Palmares. Fonte: Galdino, Luis. Palmares. 1993. (3)

Principais povoados de Palmares. Fonte: Galdino, Luis. Palmares. 1993. (3)

Rei de Ifé em frente ao Monumento Zumbi dos Palmares, no Rio de Janeiro. (4)

Rei de Ifé em frente ao Monumento Zumbi dos Palmares, no Rio de Janeiro. (4)