Panteão dos Inconfidentes
Daniel Lavinas, Ana Luiza Nobre e David Sperling
MG, Brasil
20°23'9" oeste e 43°30'13" sul.
Publicado em
08/04/2022
Atualizado em
20/09/2022
No dia 19 de abril de 1792, foram lidas as sentenças dos participantes da chamada Inconfidência Mineira – a conspiração de uma pequena elite de Vila Rica (atual Ouro Preto) contra o domínio português, em 1789. Todos os líderes foram condenados à morte por enforcamento e deveriam ser decapitados. No entanto, a sentença tinha mero caráter formal, já que, dois anos antes, em carta enviada por D. Maria I, rainha de Portugal, as penas haviam sido convertidas em degredo.
Assim, os desterrados, em sua maioria, foram levados para Angola e Moçambique, colônias portuguesas consideradas inferiores ao Brasil. Já os representantes do clero que receberam a mesma pena foram banidos para Portugal, após um período de reclusão. Apenas Tiradentes, único réu confesso, recebeu a pena máxima, como o grande responsável pela divulgação dos ideais revolucionários.
Após a proclamação da República, em 1889, os inconfidentes foram alçados a heróis nacionais e passaram a figurar como exemplo dos ideais republicanos, num esforço de reescrever uma história até então contada pela perspectiva monárquica. Posteriormente, o presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) reforçou o tom celebrativo como parte de sua política nacionalista, ao trazer de volta ao Brasil, em 1932, os inconfidentes desterrados.
Os primeiros restos mortais chegaram ao país em 1937, e cinco anos depois ocuparam o Panteão dos Inconfidentes, na cidade mineira de Ouro Preto, inaugurado como parte das homenagens oficiais a Tiradentes no sesquicentenário da sua execução. Em 2011, no governo de Dilma Rousseff, os restos mortais de mais três inconfidentes se juntaram aos outros já sepultados, totalizando 16 pessoas.
O Panteão está localizado no primeiro andar da antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, que desde 1944 abriga o Museu da Inconfidência. O museu fica na atual Praça Tiradentes, onde diversas histórias e narrativas se sobrepõem. Foi aí que a cabeça de Tiradentes foi exposta publicamente após sua execução – até desaparecer dias depois, misteriosamente. No período monárquico, o local foi rebatizado de Praça da Independência. E em 1892, por ocasião do centenário da execução de Tiradentes, a praça foi rebatizada com seu nome e acrescida de um monumento coroado pela figura sacrossanta do mártir, não por acaso bastante semelhante à imagem mais consagrada de Jesus Cristo.
Referências
TRESPACH, Rodrigo. Histórias não (ou mal) contadas: Revoltas, golpes e revoluções no Brasil. Rio de Janeiro. Harper Collins, 2017.
MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa: a Inconfidência Mineira : Brasil-Portugal : 1750-1808. São Paulo. Paz e Terra, 2005.
MUSEU da Inconfidência - Sobre o Museu. Disponível em: https://museudainconfidencia.museus.gov.br/sobre-o-museu/. Acesso em: 1 mar. 2022.
WERNECK, Gustavo. Ouro Preto recebe restos mortais de inconfidentes que morreram na África: Enterro com dois séculos e atraso. Estado de Minas, 3 abr. 2011. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/04/03/interna_gerais,219328/ouro-preto-recebe-restos-mortais-de-inconfidentes-que-morreram-na-africa.shtml. Acesso em: 1 mar. 2022.
Imagem 1: https://homemdespedacado.wordpress.com/2015/04/21/a-lapide-vazia/
Imagem 2: https://ensinarhistoria.com.br/tiradentes-esquartejado-uma-leitura-critica/21e_o-martirio-de-tiradentes/
Imagem 3: https://spguia.melhoresdestinos.com.br/system/fotos_local/fotos/34334/show/museu-da-inconfidencia.jpg
Imagem 4: https://www.gov.br/museus/pt-br/assuntos/noticias/presidenta-dilma-e-ministra-participam-de-homenagem-a-inconfidentes