Museu Republicano
Giovanni Bussaglia, Ana Luiza Nobre e David Sperling
Publicado em
30/09/2022
Atualizado em
27/06/2023
A definição de caduco é aquilo que perdeu a força, a firmeza e/ou o brilho. Pode-se dizer também que está senil, velho.
No último quarto do século XIX, pairava sobre o território brasileiro uma crise de ordem político-representativa. O Império envelhecia, parecia caducar.
Em 1870, integrantes do partido liberal radical do Rio de Janeiro, através do Manifesto Republicano de 1870, reivindicaram: “Somos da América e queremos ser americanos”. Num movimento que desejava ver o Brasil integrado a um continente de repúblicas, nascia oficialmente o Partido Republicano no Brasil.
No mesmo ano, deu-se início à organização da Companhia Ituana de Estrada de Ferro, um processo idealizado e custeado por grandes fazendeiros da região que buscavam integrar a região com a cidade de São Paulo e com o Porto de Santos para aumentar o comércio dos produtos agrícolas como o café, o algodão e a cana de açúcar.
Em 17 de abril de 1873, uma cidade que tinha na época quase metade da sua população escravizada, recebia outra metade só de ilustres figuras de todo o estado para comemorar a inauguração da estrada de ferro ituana. No dia seguinte, em 18 de abril de 1873, sediava a “Convenção de Itu” e, com ela, a fundação do Partido Republicano Paulista (PRP).
Curiosamente, 50 anos após ter recebido o título de cidade “Fidelíssima” ao imperador, selava-se, em um único final de semana, o encontro desses dois eventos.. De um lado, a estrada de ferro como consumação econômica de um projeto político, de outro a criação do partido como consumação política de um projeto econômico.
A cidade não era somente o entroncamento para as soluções da crise do Império, era também o território perfeito para a coesão entre os ideais republicanos e o fortalecimento das ligações familiares e laços de amizade entre toda a elite do estado. Alcunhada de “Berço da República”, Itu foi literalmente o berço de muitos desses convencionais,descendentes das famílias ituanas que haviam enriquecido pelo café, pela cana-de-açúcar ou pelas rotas das Monções que ali começavam.
Entretanto, no começo da década de 1920, ao se aproximar o cinquentenário da fundação do Partido Republicano Paulista (PRP), e da Convenção Republicana, parecia que quem havia envelhecido era o projeto republicano.
As celebrações de aniversários são profícuas para a elaboração de tradições e memórias. Os momentos de crise também.
Foi decidido, num movimento reacionário, que a história republicana seria celebrada com a criação de um museu, em 1923: o Museu Republicano. Dessa forma, os visitantes/eleitores, desconfiados dos rumos que poderia ter a nação brasileira pela condução paulista, poderiam entrar em contato com as relíquias da história perrepista e exaltar os valores intangíveis materializados no memorial arquitetônico. Desse contato, sairiam com sua “fé” na República renovada por um passado que fortaleceria o presente e abrilhantaria o futuro.
Mas a República caducava. Estava senil. O Museu, no “Berço da República”, foi o jazigo de uma República Velha, sepultada ainda viva junto aos seus familiares.
Links Relacionados https://www.itu.com.br/artigo/registros-da-convencao-republicana-de-itu-de-1873-20151109
Referências
MARTINS, Mariana Esteves. A formação do Museu Republicano Convenção de Itu (1921-1946). 2012. Dissertação (Mestrado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. doi:10.11606/D.8.2012.tde-21082012-093930. Acesso em: 2022-08-24.
SALLES, Iraci Galvão. A ordem como condição da civilização: O Partido Republicano Paulista (1870-1889). Revista de História, n. 118, p. 13-27, 1985.
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