Museu Republicano

Giovanni Bussaglia, Ana Luiza Nobre e David Sperling

SP, Brasil

23°15'50" oeste e 47°17'56" sul.

O Brasil Império começou a caducar em 1873, na “Convenção de Itu”, reunião que originou o Partido Republicano Paulista (PRP). A República Velha, 50 anos depois, caducava também e escolheu voltar ao seu berço para fazer seu rito de passagem.

Publicado em
30/09/2022

Atualizado em
27/06/2023

A definição de caduco é aquilo que perdeu a força, a firmeza e/ou o brilho. Pode-se dizer também que está senil, velho. 

No último quarto do século XIX, pairava sobre o território brasileiro uma crise de ordem político-representativa. O Império envelhecia, parecia caducar.

Em 1870, integrantes do partido liberal radical do Rio de Janeiro, através do Manifesto Republicano de 1870, reivindicaram: “Somos da América e queremos ser americanos”. Num movimento que desejava ver o Brasil integrado a um continente de repúblicas, nascia oficialmente o Partido Republicano no Brasil. 

No mesmo ano, deu-se início à organização da Companhia Ituana de Estrada de Ferro, um processo idealizado e custeado por grandes fazendeiros da região que buscavam integrar a região com a cidade de São Paulo e com o Porto de Santos para aumentar o comércio dos produtos agrícolas como o café, o algodão e a cana de açúcar.

Em 17 de abril de 1873, uma cidade que tinha na época quase metade da sua população escravizada, recebia outra metade só de ilustres figuras de todo o estado para comemorar a inauguração da estrada de ferro ituana. No dia seguinte, em 18 de abril de 1873, sediava a “Convenção de Itu” e, com ela, a fundação do Partido Republicano Paulista (PRP). 

Curiosamente, 50 anos após ter recebido o título de cidade “Fidelíssima” ao imperador, selava-se, em um único final de semana, o encontro desses dois eventos.. De um lado, a estrada de ferro como consumação econômica de um projeto político, de outro a criação do partido como consumação política de um projeto econômico.

A cidade não era somente o entroncamento para as soluções da crise do Império, era também o território perfeito para a coesão entre os ideais republicanos e o fortalecimento das ligações familiares e laços de amizade entre toda a elite do estado. Alcunhada de “Berço da República”, Itu foi literalmente o berço de muitos desses convencionais,descendentes das famílias ituanas que haviam enriquecido pelo café, pela cana-de-açúcar ou pelas rotas das Monções que ali começavam. 

Entretanto, no começo da década de 1920, ao se aproximar o cinquentenário da fundação do Partido Republicano Paulista (PRP), e da Convenção Republicana, parecia que quem havia envelhecido era o projeto republicano. 

As celebrações de aniversários são profícuas para a elaboração de tradições e memórias. Os momentos de crise também. 

Foi decidido, num movimento reacionário, que a história republicana seria celebrada com a criação de um museu, em 1923: o Museu Republicano. Dessa forma, os visitantes/eleitores, desconfiados dos rumos que poderia ter a nação brasileira pela condução paulista, poderiam entrar em contato com as relíquias da história perrepista e exaltar os valores intangíveis materializados no memorial arquitetônico. Desse contato, sairiam com sua “fé” na República renovada por um passado que fortaleceria o presente e abrilhantaria o futuro.

Mas a República caducava. Estava senil. O Museu, no “Berço da República”, foi o   jazigo de uma República Velha, sepultada ainda viva junto aos seus familiares.

“Convenção de Itu (1873)” Pintura idealizada pelo artista Jonas de Barros (1921) - Foto de Clauber Cleber Caetano/PR. (1)

“Convenção de Itu (1873)” Pintura idealizada pelo artista Jonas de Barros (1921) - Foto de Clauber Cleber Caetano/PR. (1)

Painel de Azulejos no Museu Republicano de Itu que retrata a inauguração da Estação Ferroviária em 1873 feito por Antonio Luiz Gagni - Foto de Miguel Melleiro Junior. (2)

Painel de Azulejos no Museu Republicano de Itu que retrata a inauguração da Estação Ferroviária em 1873 feito por Antonio Luiz Gagni - Foto de Miguel Melleiro Junior. (2)

Proposta para uma Catequese - Parte I Díptico: morte e esquartejamento, 1993. Óleo sobre tela, 140 x 240 cm. Imagem: Eduardo Ortega/Divulgação. (3)

Proposta para uma Catequese - Parte I Díptico: morte e esquartejamento, 1993. Óleo sobre tela, 140 x 240 cm. Imagem: Eduardo Ortega/Divulgação. (3)

Sala da Convenção de Itu no Museu Republicano atualmente - Foto: Divulgação/Residencial Fazenda Alvorada. (4)

Sala da Convenção de Itu no Museu Republicano atualmente - Foto: Divulgação/Residencial Fazenda Alvorada. (4)

Bertha Lutz e outras feministas no I Congresso Feminino, realizado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1922 - Arquivo Nacional. (5)

Bertha Lutz e outras feministas no I Congresso Feminino, realizado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1922 - Arquivo Nacional. (5)

A Pátria, 1919 - Pedro Bruno. (6)

A Pátria, 1919 - Pedro Bruno. (6)