Morro da Favela

Thaís Barcellos, Ana Luiza Nobre, David Sperling

RJ, Brasil

22°53'56" oeste e 43°11'38" sul.

Considerada a primeira favela do Brasil, nasceu dos desterros e falsas promessas do governo brasileiro aos ex-combatentes da Guerra dos Canudos.

Publicado em
30/09/2022

Atualizado em
02/12/2022

Finda a Guerra de Canudos, em 1897, a promessa feita aos ex-combatentes era de que receberiam terras como pagamento ao triunfo. Recém-chegados ao Rio de Janeiro, e sem o prometido, estabeleceram-se na região central da cidade, próxima à sede do Ministério da Guerra. Juntaram-se a ex-escravizados e soldados de baixa patente que já tinham sido expulsos de suas casas pelas ações higienistas das reformas de Pereira Passos.

“Assim, começaram a chamar de Favela, o Morro da Providência, não só em homenagem ao ponto estratégico que lhes possibilitou a vitória, como para estabelecer um paralelo irônico entre aquele e este, do qual, tal como na campanha, desciam todos os dias para a conquista de um novo obstáculo: a má vontade. Aqui também a fome e as privações castigam o corpo (e o coração) com a mesma intensidade da favela de Canudos.” (MEDINA, 1964 p.10)

Favela era a vegetação predominante no morro onde esses soldados combateram e acamparam em Canudos. Cnidoscolus phyllacanthus (Euphorbiaceae), planta espinhosa comum na caatinga, seu caule e folhas são cianogênicos, portanto, venenosos.  Favela é o significante que se expandiu para nomear qualquer outra ocupação irregular e precária por aqueles que não encontram outro lugar. 

O que era para ser passado está sempre presente na narrativa do Morro da Providência, como de outros morros, outras favelas: falsas promessas, desterramentos e busca por adaptação em um novo chão. Dentre tantas investidas, como não lembrar da construção dos teleféricos no alto dos morros, que os conectariam aos modais de transporte da cidade?  Uma cidade que se constrói com a espessura de uma imagem e a duração de um evento – a cidade embelezada, antes como tragédia, em seguida como farsa.  

Assumidos pelo estado como símbolos de ocupação de territórios informais, os teleféricos operaram por apenas cinco anos. Enquanto as cabines seguem penduradas, em suspensão, no céu dos morros, a favela é afirmação de luta, resistência e permanência.

Morro da favela, óleo sobre tela, 64 x 76 cm, coleção Sérgio Fadel, Rio de Janeiro. Tarsila do Amaral, 1924 [AMARAL, Aracy (org). Tarsila do Amaral. Buenos Aires, Fundação Finambrás, 2000] (1)

Morro da favela, óleo sobre tela, 64 x 76 cm, coleção Sérgio Fadel, Rio de Janeiro. Tarsila do Amaral, 1924 [AMARAL, Aracy (org). Tarsila do Amaral. Buenos Aires, Fundação Finambrás, 2000] (1)

Estação do Teleférico da Providência: virando sucata (Foto DiPo) (2)

Estação do Teleférico da Providência: virando sucata (Foto DiPo) (2)

O então conhecido como

O então conhecido como "Santuário do Cristo Redentor" em fotografia do início do século XX de Augusto Malta. Foto obtida na Biblioteca Nacional Digital (3)

Faveleira Nome popular: favela, faveleira, favela-de-cachorro (4)

Faveleira Nome popular: favela, faveleira, favela-de-cachorro (4)

Ruínas do povoado liderado por Antônio Conselheiro. Foto: Maurício Hora

Ruínas do povoado liderado por Antônio Conselheiro. Foto: Maurício Hora

Favela, desenho catalogado como “carnet b4-282” na Fundação Le Corbusier, Rio de Janeiro RJ. Le Corbusier, 1929 [Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, Tessela / Projeto, 1987] (6)

Favela, desenho catalogado como “carnet b4-282” na Fundação Le Corbusier, Rio de Janeiro RJ. Le Corbusier, 1929 [Le Corbusier e o Brasil. São Paulo, Tessela / Projeto, 1987] (6)

Imagem Morro da Providência, início do século. Arquivo da Cidade (7)

Imagem Morro da Providência, início do século. Arquivo da Cidade (7)