Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção

Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling

CE, Brasil

3°43'21" oeste e 38°31'28" sul.

Nos subterrâneos dessa fortaleza setecentista de origem holandesa teria sido encarcerada a primeira presidente do Brasil.

Publicado em
05/10/2022

Atualizado em
02/12/2022

A primeira presidente no Brasil foi também a primeira presa política do país. No século XIX, quando a participação das mulheres na política era praticamente nula, Bárbara de Alencar rompeu muitos padrões. De família rica, mudou-se para o Crato – então pertencente à província de Pernambuco – e lá passou a conduzir um engenho, função considerada exclusivamente masculina. Influenciada por ideais iluministas, assumiu a linha de frente da propagação do pensamento republicano pelo sertão.

A independência de Pernambuco foi declarada em 8 de março de 1817 e Barbara liderou a proclamação da chamada República do Crato, tornando-se, por 8 dias, a presidente da primeira experiência republicana do Brasil.

Com bandeira própria, a revolução foi o ultimo movimento contra o domínio português do período colonial brasileiro e sofreu repressão mais violenta do que a Inconfidência Mineira, consagrada como símbolo da luta pela independência do Brasil. Em punição ao movimento pernambucano e seus desdobramentos, 11 separatistas foram executados em praças públicas no Recife e 3 em Salvador, centenas foram mortos e outros tantos exilados.

Bárbara foi capturada, teve seus bens confiscados e ficou presa 3 anos entre as cidades de Fortaleza, Recife e Salvador. Na Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, num cárcere subterrâneo onde não é possível sequer ficar de pé, uma placa informa: “Aqui gemeu longos dias D. Bárbara de Alencar, victima em 1817 da tyrannia do governador Sampaio”. A informação carece de comprovação, mas fez da cela atração turística de um dos marcos fundadores da cidade de Fortaleza, no Ceará. E o fato é que os anos na prisão não enterraram a atividade política de D Bárbara. Dois anos após a Independência, lá estava ela na Confederação do Equador, a lutar mais uma vez pelo regime republicano que o Brasil só teria muitas décadas depois.

Foto da ficha criminal de Dilma Rousseff. Presa aos 22 anos e torturada por 22 dias. Eleita presidente em 2014 e vítima de impeachment em 2016. Foto: Departamento de Ordem Política e Social/AFP. (1)

Foto da ficha criminal de Dilma Rousseff. Presa aos 22 anos e torturada por 22 dias. Eleita presidente em 2014 e vítima de impeachment em 2016. Foto: Departamento de Ordem Política e Social/AFP. (1)

Cartografia escrita da Vila Nossa Senhora da Assunção, c. 1730. No canto superior direito é possível ver um ainda primitivo Forte de Nossa Senhora da Assunção. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino. (2)

Cartografia escrita da Vila Nossa Senhora da Assunção, c. 1730. No canto superior direito é possível ver um ainda primitivo Forte de Nossa Senhora da Assunção. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino. (2)

Selo homenageando 100 anos da publicação de ‘’Iracema’’, romance escrito por José de Alencar, neto de Bárbara de Alencar. (3)

Selo homenageando 100 anos da publicação de ‘’Iracema’’, romance escrito por José de Alencar, neto de Bárbara de Alencar. (3)

Os Cearenses 2 - Bárbara de Alencar