Constelações do universo Magüta
Priscila Faulhaber e Heitor Martins Guimarães
AM, Brasil
3°46'59" oeste e 69°28'0" sul.
Publicado em
30/09/2022
Atualizado em
02/12/2022
O ponto localiza a Aldeia Barro Vermelho ou Bunecü em Tikuna/Ticuna, às margens do igarapé São Jerônimo, local de grande identificação com os valores do pensamento Magüta, forte referência para este povo. Não obstante, existe uma grande diversidade sociocultural entre os Tikuna/Ticuna, desde os que seguem estritamente as prescrições rituais aos Tikuna do Médio Solimões, dos quais a maioria não fala mais a língua. A despeito do processo em curso de urbanização, observa-se um movimento de fixar residência em colinas não inundáveis, que constituem lugares de significação étnica caracterizados pelo processo identitário de aproximação com os valores Tikuna, como Enepü, Otaware, ou ao longo do igarapé São Jerônimo. As colinas mais altas são veneradas, consideradas locais não atingíveis, como o Éware, ou a montanha Taivügüne, próxima ao Éware. Contudo, verifica-se a continuidade de um movimento de busca das facilidades na beira do rio, o que implica a aproximação com o mundo dos brancos.
Na terra indígena Évare I, Barro Vermelho é a aldeia com maior densidade demográfica entre as que existem ao longo do igarapé Tunetü/São Jerônimo, as mais próximas do local identitário denominado Eware, onde os heróis culturais Yoi’i e Ipi pescaram os primeiros homens e assim constituíram o povo Magüta, referência para os Tikuna/Ticuna. Embora seja localizado nesta área, este lugar encantado é inacessível aos mortais. Apenas podem transitar por ali os pajés e as moças submetidas ao ritual de puberdade feminina. Todos os que tentam ali chegar por terra ou por meio fluvial encontram barreiras e presenciam fenômenos extraordinários como raios, trovões, rodamoinhos que lhes impedem de ali chegar. Desse modo, não é possível fornecer coordenadas precisas para este local.
No ritual de puberdade feminina, as máscaras Tikuna/Ticuna representam a relação com os donos das forças da natureza ou animais extraordinários. As máscaras e os relatos são associados com os lugares de proveniência dos Tikuna e dos outros que com eles interagem: os lugares habitáveis, como as colinas (“morros”) e as áreas próximas da floresta, e os confins inacessíveis da floresta e das áreas mais elevadas (“montanhas”), consideradas território dos entes sagrados e das forças desconhecidas. Tais elevações são importantes para os Tikuna/Ticuna configurarem seu lugar enquanto povo fronteiriço, cuja identidade se circunstancia face aos diferentes estados nacionais (Brasil, Colômbia e Peru).
Os Tikuna/Ticuna orientam-se por constelações que representam seres que subiram ao céu após determinadas peripécias. Pode-se correlacionar os movimentos celestes com a sazonalidade. Quando inicia a briga da Onça e do Tamanduá (na área do céu entre o que conhecemos como Escorpião e Cruzeiro do Sul) começa a estação mais seca, que ocorre entre maio e setembro. No início, a onça está sobre o tamanduá e ao final o tamanduá em cima da onça, denotando vitória da inteligência contra a força bruta. Quando estes estão saindo do Céu a Oeste, nasce, ao Oriente, o conjunto de figuras que anunciam o começo das chuvas, a saber: a Tartaruga Baweta (associada às Plêiades), a Queixada do Jacaré (em Touro) e a Perna da Onça (onde vemos Órion).
Referências
FAULHABER, Priscila e GUIMARÃES, Heitor Martins. Vídeo Céu Tikuna em movimento no link https://www.youtube.com/watch?v=0QhjzpvLroY&t=417s. Acesso em: 5 set. 2022
OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. (coord.). "Atlas das Terras Ticunas". Rio de Janeiro, Projeto Museu Nacional/ Finep/ PPG-7/ Cgtt, 1998. Disponível em: . Acesso em: 5 set. 2022
SISALDEIA - FUNAI, Disponível em: . Acesso em: 5 set. 2022.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ticuna. Acesso em: 5 set. 2022.
Fontes das Imagens:
Site do SISALDEIA, da FUNAI, http://mapas2.funai.gov.br/sisaldeia/index.php?acao=ver&cod_aldeia=2833 acesso em 5 de setembro de 2022
OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. (coord.). "Atlas das Terras Ticunas". Rio de Janeiro, Projeto Museu Nacional/ Finep/ PPG-7/ Cgtt, 1998. Acesso em http://jpoantropologia.com.br/pt/wp-content/uploads/2018/06/TC_1998-1.pdf -acesso 5 de setembro de 2022
FAULHABER, Priscila e MARTINS, Heitor Vídeo Céu Tikuna em movimento no link https://www.youtube.com/watch?v=0QhjzpvLroY&t=417s acesso em 5 de setembro de 2022
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ticuna Acesso 5 de setembro de 2022