Pau Brasil (EN)
Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling
BA, Brasil
17°11'13" oeste e 39°35'9" sul.
Publicado em
08/07/2022
Atualizado em
11/09/2022
Ibirapitanga. Árvore vermelha em Tupi. Assim era antes do Brasil. Uma imensa floresta atlântica que se espalhava por quilômetros e quilômetros de costa. O corante do seu tronco era usado pelos indígenas para tingir tecidos. Os portugueses, quando chegaram nessas terras, logo descobriram sua riqueza e a chamaram de Pau-Brasil, nome dado também a planta similar da Índia, possivelmente pela sua cor de brasa. O Pau-Brasil (paubrasilia echinata) foi o primeiro produto a ser explorado pelos colonizadores. O difícil manejo e transporte de uma árvore tão pesada e a disputa com outros países pelo valioso produto contribuíram para que os portugueses começassem a se assentar no que hoje é o Brasil.
Assim nasceram também os brasileiros – aqueles que extraem o Pau-Brasil.
Os muitos séculos de exploração levaram a espécie à quase extinção, sobrando apenas poucos e jovens indivíduos. Do seu habitat, a Mata Atlântica, também resta apenas 12% da área original. Somente em 1992 o corte de Pau-Brasil começou a ser limitado por leis ambientais, tendo, posteriormente, seu comércio internacional restringido. Quatro indivíduos dessa espécie são protegidos por lei ou tombados por seu valor cultural: um em Minas Gerais, um em São Paulo e dois no Rio de Janeiro.
Entre a Bahia e o Espírito Santo, foram criadas, na década de 1990, oito reservas de Mata Atlântica, dentre elas o Parque Nacional do Pau-Brasil, com 19 mil hectares. Isso não impediu que uma operação policial interceptasse, em 2021, uma quadrilha de tráfico internacional de Pau-Brasil a partir da apreensão de 42 mil arcos de violino feitos, provavelmente, com árvores extraídas do parque.
O indíviduo mais antigo foi descoberto em 2020 em Itamaraju, no sul da Bahia: uma árvore com mais de 7 metros de circunferência e idade estimada em pelo menos 600 anos. Uma testemunha de tudo que se passou ao seu redor e seguiu crescendo a poucos quilômetros de uma rodovia até ser descoberta por moradores do Assentamento Pau-Brasil do Movimento dos Sem-Terra. Ocupação cujo nome homenageia os mais de 800 exemplares de Pau-Brasil que existem e resistem no local, em convívio com o agrocultivo familiar de cacau.
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Pau Brasil Tree
A native Atlantic Forest tree that is at the root of Portuguese colonial extractivism in the land that now bears its name.
Ibirapitanga. Tupi for red tree. So it was before Brazil. An immense stretch of Atlantic Forest, sprawling along miles and miles of coast. Indigenous people used to color fabric using the dye in its trunk. The Portuguese, upon arriving in our land, soon discovered its worth and named it Pau-Brasil (Brazilwood), a name also given to a similar plant from India, possibly due to its ember-like color. Pau-Brasil (paubrasilia echinata) was the first product ever explored by the colonizers. The challenge of managing and transporting such a heavy tree and the competition with other countries for the valuable product were among the reasons the Portuguese began to settle in what is now Brazil.
And that was also how the Brazilians – those who extract the Pau-Brasil – were born.
Centuries of exploration drove the species to the verge of extinction, with just a few young individuals left. Only 12% of its original habitat, the Atlantic Forest, are still standing as well. It wasn’t until 1992 that Pau-Brasil extraction became regulated by environmental laws, and its international trade was subsequently restricted. Four individuals of this species are protected by law or heritage-listed for their cultural value: one in Minas Gerais, one in São Paulo, and two in Rio de Janeiro.
In the 1990s, between Bahia and Espírito Santo, eight Atlantic Forest reserves were created, including Pau-Brasil National Park, spanning 47,000 acres. This did not keep a police operation from intercepting, in 2021, a Pau-Brasil international trafficking gang after seizing 42,000 violin bows probably built from trees taken from the park.
The oldest individual was discovered in 2020 in Itamaraju, in southern Bahia: a tree with over 7 meters of girth and an estimated age of at least 600 years. A witness to everything that happened around it, it kept growing a few kilometers off a highway, until it was found out by residents of the Landless Workers’ Movement’s Pau-Brasil Settlement. The settlement’s name honors the 800-plus Pau-Brasil specimens which exist and resist in the area, in coexistence with the cocoa-farming families.
Referências
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MENEGASSI, Duda. Pau-brasil com mais de 600 anos é descoberto no sul da Bahia. Disponível em: https://oeco.org.br/reportagens/pau-brasil-com-mais-de-600-anos-e-descoberto-no-sul-da-bahia/. Acesso em: 01 abr. 2022.
MIRANDA, Marcos Paulo de Souza. Árvores podem ser protegidas como patrimônio cultural. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-set-30/ambiente-juridico-arvores-podem-protegidas-patrimonio-cultural. Acesso em: 06 abr. 2022.
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SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
VEJA. PF faz operação contra o tráfico mais antigo do país. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/pf-faz-operacao-contra-o-trafico-mais-antigo-do-pais-o-de-pau-brasil/. Acesso em: 06 abr. 2022.
Fonte das Imagens
Imagem 1: https://journals.openedition.org/terrabrasilis/715/
Imagem 2: https://www.ibflorestas.org.br/conteudo/arvore-pau-brasil
Imagem 3: https://www.pinkbijoux.com.br/madeiras-sementes/fio-de-semente-pau-brasil-smt009
Imagem 4: https://oeco.org.br/reportagens/pau-brasil-com-mais-de-600-anos-e-descoberto-no-sul-da-bahia/
Imagem 5: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/biblioteca-virtual-da-cartografia-historica-do-seculo-xvi-ao-xviii/artigos/terra-brasilis/
Imagem 6: https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/pf-faz-operacao-contra-o-trafico-mais-antigo-do-pais-o-de-pau-brasil/