Serra Pelada

Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling

PA, Brasil

5°56'9" oeste e 49°40'30" sul.

"O ouro é o tesouro e aquele que o possui tem tudo o de que necessita no mundo; com ele tem, também, o meio de resgatar as almas do Purgatório e de as chamar ao Paraíso." (Cristóvão Colombo, Jamaica, 1503)

Publicado em
13/05/2022

Atualizado em
26/10/2022

No meio da selva amazônica, uma clareira e um buraco. Homens se aglomeram, andam apressados e enlameados em profusão, como um formigueiro. Têm a mesma cor da terra e carregam sacos pesados por escadas que sobem os barrancos loteados da grande cratera.

Essa é a imagem que ficou mais conhecida da Serra Pelada, mina de ouro descoberta na década de 1980 no interior do Pará, região norte do Brasil. Seria mais um entre os muitos garimpos da Serra dos Carajás, onde já havia sido encontrada uma grande reserva de minério de ferro em 1967, num solo que tem cerca de 3 bilhões de anos.

Mas a corrida pelo metal precioso atraiu milhares de trabalhadores rurais do Nordeste do país, sem experiência no garimpo, em busca de enriquecimento rápido nas terras abertas à força na floresta pela Rodovia Transamazônica. Assim começou a exploração da Serra Pelada, uma colina próxima à grota.

A Companhia Vale do Rio Doce tinha a concessão da área desde 1974. Mas em maio de 1980 o Estado brasileiro enviou o Major Curió para organizar o garimpo e “demonstrar ao mundo o potencial mineral da região”.

A movimentação em Serra Pelada atraiu garimpeiros, comerciantes e fez surgiu muitos outros serviços, mas não houve investimento público em saneamento, habitação e saúde para atender aos habitantes, que chegaram a 80.000.

Poucos enriqueceram. Outros gastaram tudo que ganharam.

Entre 1980 e 1990 foram extraídas oficialmente 48, 3 toneladas de ouro de Serra Pelada. Em 1983, a coordenação da mina foi passada para a cooperativa de garimpeiros mas as violentas disputas pelo garimpo continuaram, culminando no massacre, em 1987, de dezenas de garimpeiros – muitos dos quais permanecem desaparecidos – em uma manifestação por direitos trabalhistas.

Em 1992, o garimpo foi proibido em Serra Pelada.

Hoje, a colina de 150 metros de altura, que foi escavada, peneirada e subtraída por 12 anos, é seu negativo: uma cratera com 200 metros de profundidade. Nessa ferida da terra formou-se um lago, contaminado por metais pesados. Alguns dos primeiros garimpeiros permanecem na região de Serra Pelada e mantém a esperança de voltarem para suas terras com ouro no bolso. A riqueza não ficou na pequena vila paraense. As casas são de madeira, as ruas sem asfalto e a condição de vida é precária. Os que permanecem lutam pela continuação do garimpo, pela mecanização da exploração, pelos seus direitos e pela terra. Seguem com escavações nos seus quintais, em poços que chegam a ter 14 metros de profundidade. Porém a fonte de ouro mudou: corroída a Serra Pelada, o novo destino do garimpo são os rios das terras Yanomamis.

E dizem que ainda há, sob a mina da Serra Pelada, uma laje de 50 toneladas de ouro puro.

Comerciante de ouro nas ruas de São Paulo, 2022. Foto: Victor Vaccari.

Comerciante de ouro nas ruas de São Paulo, 2022. Foto: Victor Vaccari.

Cratera gerada pelo garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami. (1)

Cratera gerada pelo garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami. (1)

Antigo buraco da Serra Pelada coberto com água. (2)

Antigo buraco da Serra Pelada coberto com água. (2)

Serra Pelada. Foto: Sebastião Salgado. (3)

Serra Pelada. Foto: Sebastião Salgado. (3)

Mapa produzido pela Superinteressante. (4)

Mapa produzido pela Superinteressante. (4)

Rio das Mortes, 2021, Luis Zerbini. Foto: Joana Martins

Rio das Mortes, 2021, Luis Zerbini. Foto: Joana Martins

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