São João Marcos
Joana Martins, Ana Luiza Nobre e David Sperling
RJ, Brasil
22°47'50" oeste e 44°1'50" sul.
Publicado em
25/09/2022
Atualizado em
02/12/2022
Alguém perguntará pela cidade de São João Marcos, no Vale do Paraíba, uma das mais ricas do ciclo do café do Brasil colônia e imperial.
Poderia ser mais uma cidade que, com o declínio da economia cafeeira e escravagista, perdeu importância e se esvaziou. Mas boa parte de sua história ficou sob a água.
No início do século XX, uma área periférica foi inundada para criação da Represa de Ribeirão das Lajes. Parte da população – que no auge de sua prosperidade chegou a 18 mil habitantes – foi realocada e um surto de malária espalhou-se pela região.
No Estado Novo (1937-45), a ampliação da represa surgiu como solução para os problemas de abastecimento de água e luz da capital federal. O recém-criado Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN) ainda tentou proteger a cidade do alagamento ao fazer de São João Marcos o primeiro município brasileiro tombado, em 1939. Mas no ano seguinte sobreveio o destombamento, assinado pelo próprio presidente Getúlio Vargas. As terras foram desapropriadas, os habitantes realocados e as casas dinamitadas para evitar qualquer possibilidade de reocupação.
A construção da Usina Hidrelétrica de Fontes Novas nunca chegou a inundar completamente a cidade, porém. Restaram as ruínas encobertas ao longo do tempo pela mata e o traçado quase apagado das ruas no chão calçado de pedra, onde ninguém mais pisou por décadas. Vestígios tombados novamente em 1990 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), que hoje configuram o Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos – o primeiro sítio arqueológico urbano de um país que já tem mais de 200 usinas hidrelétricas de grande porte em operação (três delas entre as dez maiores do planeta), e segue alagando o que for preciso para construção de outras.
Rio Claro - São João Marcos - Mapa de cultura RJ
Referências
COSTA, Mariana. O fim de São João Marcos: a cidade que foi inundada para abastecer o Rio. TAB UOL. fev. 2021. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/02/04/o-fim-de-sao-joao-marcos-a-cidade-que-foi-inundada-para-abastecer-o-rio.htm. Acesso em: 29 ago. 2022.
LOPES, Dayane Caputo Camacho. São João Marcos. Memórias de uma cidade submersa. Arquiteturismo, São Paulo, ano 13, n. 150-151.02, Vitruvius, set. 2019 .
OLIVEIRA, Maria Amália Silva Alves de. Conflitos e disputas pela memória: as ruínas de São João Marcos. Revista Memória em Rede, Pelotas, v. 4, n. 10, jan. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/Memoria/article/view/9433. Acesso em: 29 ago. 2022.
Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. Disponível em: https://saojoaomarcos.com.br/. Acesso em: 29 ago. 2022.
Imagem 1: https://www.tripadvisor.com.br/Attraction_Review-g4139545-d7676334-Reviews-Parque_Arqueologico_e_Ambiental_de_Sao_Joao_Marcos-Rio_Claro_State_of_Rio_de_Jan.html
Imagem 2: https://www.memoriadaeletricidade.com.br/acervo/1496/elevacao-da-barragem-do-ribeirao-das-lajes-da-usina-hidreletrica-fontes-nova
Imagem 3: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/13.150-151/7499