Casa de Chico Mendes

Ana Clara Mesquita, Ana Luiza Nobre e David Sperling

AC, Brasil

10°39'6" oeste e 68°30'8" sul.

Em Xapuri, às margens do Rio Acre, a casa onde residiu Chico Mendes com sua família abriga a memória da luta dos Povos da Floresta. Através do movimento Ambientalista e Sindical, Chico Mendes celebrou a vida de seringueiros, castanheiros, quebradoras de coco, indígenas, rios e árvores com a certeza de um outro modelo de desenvolvimento contra a violência do agronegócio.

Publicado em
13/09/2022

Atualizado em
02/12/2022

Durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, Amazônia se transformou em cenário da construção de um ideário de desenvolvimento e identidade nacional, a partir de políticas de ocupação e adensamento populacional das chamadas ‘’terras vazias’’. O que de vazios nada tinham, os territórios já habitados pelas comunidades indígenas entraram em conflito com a campanha de migração para o norte. 

Nesta mistura cultural forçada pela migração, a experiência dos seringueiros, muitos vindos do nordeste do país, mobilizou uma forma de relacionamento com a mata que unia o acesso à terra disponibilizado via Estado com tradições e saberes indígenas, no momento de crescimento internacional da economia da borracha.

Como uma nova Marcha para o Oeste, em 1958, a partir da consolidação da Nova capital, Juscelino iniciou um esforço de construção de estradas ligando o país. Caso emblemático foi a Rodovia Belém-Brasília, construída simultaneamente do norte para o centro-oeste, abrindo a Floresta, e do planalto central rumo ao norte, cortando o cerrado. As duas pontas se encontraram em 1959, e a obra foi finalizada apenas na Ditadura Militar, sob comando de Garrastazu Médici. Como marco do projeto de colonização do norte do país, essa infraestrutura marcou, com a facilitação de acessos e fragilização de barreiras, o aumento significativo dos avanços dos posseiros e da grilagem contra os povos da floresta. 

Herdeiro dessa história, filho de seringueiro e nascido em Xapuri, no Acre, Chico Mendes foi um símbolo da defesa da floresta Amazônica, figura central de mobilização comunitária contra ameaças de fazendeiros e paramilitares. Em 1975, Chico Mendes já atuava no primeiro sindicato do Acre, o dos Trabalhadores Rurais, reunindo indígenas, castanheiros, quebradoras de coco e ribeirinhos num movimento unificado, que viria a se constituir dez anos depois na, então, União dos Povos da Floresta.

Atuou na concepção das Reservas Extrativistas, modelo de reforma agrária que não distingue trabalho e moradia, e que recusa a ideia de lotes individuais. As famílias nelas viveriam e se sustentariam a partir do extrativismo da castanha, da borracha e do açaí. Em germinação, um sentido maior da floresta como casa-comum.

Diante das mobilizações que encabeçava, passou a enfrentar a crescente ameaça de grileiros e posseiros  Em sua casa, em 1988, Chico Mendes sofre uma emboscada e é assassinado. O mandante do crime, amigo do então delegado da cidade, se entrega e assume o crime. Sua casa se converte em ponto de memória da luta dos povos da floresta pela defesa da Amazônia, dos direitos humanos e do meio ambiente. Tombada em 2007  pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), é o único patrimônio cultural do Acre.

Atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição entre os países que mais matam ambientalistas, atrás apenas de Colômbia e Filipinas. Mas algo avança. Existem, hoje, 96 Reservas Extrativistas no país. A floresta como casa-comum vai se tornando, ainda com muito custo, uma utopia vivida.

Chico Mendes em sua casa, Julho de 1988 Fonte: Miranda Smith/ Wikimedia Commons (1)

Chico Mendes em sua casa, Julho de 1988 Fonte: Miranda Smith/ Wikimedia Commons (1)

American Progress, 1872.  Artista: John Gast (2)

American Progress, 1872. Artista: John Gast (2)

Construção da Rodovia Belém-Brasilia Foto: Acervo Estadão (3)

Construção da Rodovia Belém-Brasilia Foto: Acervo Estadão (3)

Rpresentante do MST visita a Casa Chico Mendes Foto: Solange Egelmann (4)

Rpresentante do MST visita a Casa Chico Mendes Foto: Solange Egelmann (4)